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Eternamente Pagú



Tive o grande prazer de conhecer pessoalmente a grande actriz e cineasta Norma Bengell, aquando duma visita sua ao Prof. Ivo Pitanguy, na sua Clínica Ivo Pitanguy, onde eu trabalhava como Tesoureira e RP. Norma Bengell veio solicitar ao Professor um patrocínio para o filme "Eternamente Pagú" que ela estava a realizar. Em conversa com ela no meu gabinete, contei-lhe que era cantora e, ela pediu-me para cantar alguma coisa para ela. Não me fiz rogada e, ali mesmo, à capela


Cantei para ela um dos clássicos mais lindos do cancioneiro Angolano: "Monami Zeca", (em kimbundo, e que em português significa Meu filho dorme. É uma brilhante composição do Euclides Fontes Pereira, um dos integrantes do glorioso conjunto angolano "N'gola Ritmos", conjunto esse que tantas vezes me acompanhou, tanto em espectáculos em Luanda, como em digressões artísticas pela então província de Angola, (nos anos 60!).


Norma Bengell ficou subjugada pela minha voz e pela emoção com que interpretei Monami...

Mal me calei, ligou para a sua assistente Sónia, e ainda sob a emoção, disse-lhe:

Sónia, você ainda está à procura da cantora para o Hino? Pára tudo. Encontrei A CANTORA! Emocionada e feliz, já não escutei mais nada!


Pedi dispensa ao professor para as gravações e foi assim que ganhei o privilégio de fazer parte do elenco prestigioso do primeiro longa-metragem da directora cinematográfica e actriz brasileira NORMA BENGELL, "Eternamente Pagú".


Foi exaltante participar num filme que reunia tantos ícones do cinema e da televisão brasileiros, tais como: Carla Camurati, a protagonista, com quem tive a honra de contracenar em duas cenas, inclusive numa das últimas cenas do filme, que registam a saída da Pagú da prisão. Nessa cena, despedímo-nos com um grande e sentido abraço, pois a prisioneira Lia Navarro, (meu personagem) ainda ficou na prisão. Lia ficou parada, voltada para Pagú, velando a sua partida, enquanto cantava o "Hino da Liberdade" brasileiro, de Maria Werneck.



cena: o "abraço de despedida"

(Milita cantando o hino da liberdade).


Ciente da importância do meu papel enquanto artista e cidadã angolana, disse à Norma Bengell que achava importante que mencionasse Angola junto ao meu nome nos créditos, para honrar o meu país. Afinal raros eram os angolanos que eram convidados a participar em produções brasileiras.



cena: apresentando Lia Navarro (Milita)

As minhas cenas foram gravadas num presídio de verdade, e os prisioneiros, com excepção do nosso grupo, eram de facto presidiários, que me aplaudiram muito e até me deram presentinhos artesanais confeccionados por eles próprios (como profilaxia e também para ganharem algum dinheiro). Não me sendo possível dar-lhes um abraço físicamente, apertei com compaixão, cada uma das mãos que, através das grades, buscou a minha. Foi muito enriquecedora esta experiência.


Ah, sem esquecer que também fui convidada para a apresentação deste filme à imprensa.





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